Militância e Ativismo
Felipe Corrêa
Os dirigentes “invisíveis” e a hierarquia informal
Mas o dirigismo ativista se manifesta é no interior do próprio movimento ativista. Sob o argumento do anti-autoritarismo, abre-se mão de qualquer organicidade, método decisório e principalmente da unidade na ação em prol do espontaneísmo. Porém, freqüentemente o único espontaneísmo que se manifesta é o de uma pequena fração de pessoas que, por serem mais experientes, terem mais tempo livre, possuírem os “contatos”, dominarem melhor as palavras, serem mais desinibidas, terem um tom de voz mais alto e uma infinidade de outros fatores, acabam impondo sua vontade à maioria, que terá que segui-la se quiser “fazer alguma coisa”, segundo a própria lógica ativista de fazer algo em tudo sem centrar forças em nada. Posteriormente o grupo dirigente e engajado arroga-se no direito de cobrar e pôr o dedo na cara de qualquer um que deixar de fazer algo (o que deveria ser um direito já que na dinâmica ativista ninguém é obrigado a fazer o que não queira) e com isso ganhar mais respeito e autoridade ainda, afinal de contas eles foram os que fizeram. Não importa quais foram os resultados, eles fizeram sua parte e sentem-se no direito de cobrar dos que não fizeram. São legítimos líderes.
Para quem tem dúvidas sobre isso, basta fazer um esforço de memória e se perguntar quem decide o destino das verbas arrecadadas em nome do movimento? Quem decide o que deve ser ou não notícia de destaque? Que alguém decide todos sabemos, mas como, quem, com que critérios, tudo isso permanece envolto numa nuvem de fumaça. Por detrás dela estão dirigentes auto-elegidos que fazem e desfazem em nome do coletivo, que de fato dirigem tal como os dirigentes das centrais sindicais e partidos que tanto criticam.
A organicidade e a existência de mecanismos de impeçam a reprodução da autoridade são necessários. O federalismo é uma ferramenta importante onde a democracia direta é exercida nos grupos e a decisão final é tomada numa instância maior entre os delegados dos grupos, mas tanto nesse caso como no caso de grupos menores onde a delegação ainda não é necessária, a unidade na ação é muito importante, pois é ela que permite a realização de qualquer atividade e depois sua avaliação coletiva. Em grupos menores, mais integrados devido à prática diária, a democracia direta é uma realidade, mas em reuniões mais amplas e com pessoas que mal se conhecem, mecanismos como inscrição e tempo de fala são garantias contra a centralização e estimulam a participação coletiva nos debates. Os verdadeiros autoritários, não gostam disso. No caos eles reinam e se impõem, com regras coletivas e igualdade são obrigados a respeitar os demais, já não podem ganhar no grito, o seu personalismo fica melindrado.
CORREA, FELIPE. Militância e anarquismo. Boletim Combate Anarquista, n. 37 e 38, julho/agosto. 2004. Disponível em http://www.anarkismo.net/article/19915 [download] – 07/09/2011.
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