Wednesday, 7 September 2011

Militância e Ativismo 2/6

PARTE 2/6
Militância e Ativismo
Felipe Corrêa


O ativismo em relação aos movimentos sociais e à população em geral

Esse isolamento dá origem a um grupo social peculiar que tem certas normas de conduta e que se opõe a outros grupos devido a sua visão diferenciada de mundo, opondo-se inclusive ao próprio trabalhador enquanto representante das classes oprimidas, que passa a ser visto como uma “pessoa comum” ou alguém que “não tem nada a ver”. Este tipo de ativista constitui um novo gueto social, com seus próprios valores e no final das contas tem grandes dificuldades de dialogar com todo aquele que seja diferente dele. É interessante notar que quando se encontram alguns destes ativistas em meio a um público mais amplo eles conversam apenas entre eles, apenas sobre os sons, os lugares, as coisas que interessam a eles, um tipo de papo que simplesmente impede o contato de quem seja diferente, não nenhum esforço para conhecer, se integrar, dialogar.

Ironicamente o ativista se propõe a lutar contra o capitalismo, e fica implícito que luta contra os efeitos perversos deste sistema. Ora quem mais sofre com este sistema são as classes trabalhadoras e exploradas. Mas o irônico é que os ativistas não lutam nunca com elas e sim por elas, dando origem a uma verdadeira elite dirigente, por mais que esperneiem contra o autoritarismo, o dirigismo, o vanguardismo, refutando isso com palavras, na prática a postura leva justamente a isso. Este ponto é polêmico, pois os próprios defensores do ativismo acusam os militantes mais regulares, pertencentes a grupos políticos e movimentos sociais de serem dirigentes e manipularem as massas. Na verdade essa é uma falsa polêmica, pois o militante em geral faz parte da massa; mesmo que esteja organizado politicamente com pessoas de afinidade política similares; não deixa de ser parte das massas, que sofrem com as mazelas do capitalismo e por isso mesmo se organiza socialmente em movimentos sem feição ideológica, religiosa, etc., que pelo seu perfil Bakunin chamou de movimentos de massa.

O militante só pode ser entendido como dirigente se for no sentido de que o seu dever é o de garantir o caráter revolucionário, e libertário no caso do anarquismo, dos movimentos sociais e isso se faz não por decreto, mas de igual para igual através de discussão e prática política. Mesmo assim seu papel se resume a isso, cuidar para que o movimento não caia no reformismo e avance cada vez mais e por si mesmo rumo à radicalização e futuramente a uma ruptura revolucionária, sendo essa a única direção para qual ele aponta. O militante anarquista nada mais é do que um fomentador da revolução social nos meios apáticos ou acorrentados pelo reformismo.

Ironicamente é o ativismo que assume um caráter tipicamente dirigente. Uma das atividades mais comuns, e talvez o ponto alto da dinâmica ativista, é mobilizar os que já estão engajados ideologicamente para atos de rua quantitativamente expressivos, festivos e/ou violentos contra o capitalismo e a globalização, nos moldes dos atos promovidos pela AGP ao redor do mundo, sempre em nome da população pobre e explorada, já que é ela quem mais sofre com o capitalismo e a globalização da economia. Atos esses que se tornaram grandes devido ao fenômeno do turismo político (que atrai ativistas de outras regiões e até países), mas que raramente contam com a participação do pivô da história, o trabalhador e suas entidades de luta. Nesse tipo de ato ao trabalhador lamentavelmente fica reservado ao papel de expectador que apenas observa indiferente pela janela do ônibus que o leva a caminho do trabalho.

Mesmo que houvesse alguma participação popular, organizada ou não, num ato desse tipo, ela facilmente seria arrastada pelo ativismo dirigente que pensa, organiza e ideologiza o ato sozinho. Nesse caso existe um muro que separa o ativista, que não atua socialmente, e o militante social, que busca no seu dia a dia envolver cada vez mais gente na luta: o primeiro organiza e o segundo vai na maré. Os papéis são bem claros, enquanto ao militante social cabe toda a tarefa regular e diária, ao ativista resta o trabalho profissional de organizar um ato de vez em quando. É como se o ativista, ou a elite ativista, fosse uma ponte pela qual o trabalhador teria obrigatoriamente que passar rumo à liberdade. Nós como anarquistas sempre reivindicamos o trabalhador como protagonista da transformação social. “A emancipação do trabalhador será obra do próprio trabalhador”, “Façamos nós por nossas mãos tudo que a nós nos diz respeito”. De que serve a letra da Internacional e o próprio anarquismo se for para atuar isolado do povo ou, o que é pior, em nome dele?

CORREA, FELIPE. Militância e anarquismo. Boletim Combate Anarquista, n. 37 e 38, julho/agosto. 2004. Disponível em http://www.anarkismo.net/article/19915 [download] – 07/09/2011.


BANKSY

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