Tuesday 20 December 2011

manoel de barros - 95 anos 19/12/2011

fonte - olhar direto
tb aniversãrio da minha querida michellinha! duas pessoas muito lindas no meu universo!

19/12/2011 

Manoel de Barros, o 'maior inútil' cuiabano, completa 95 anos hoje

Da Redação - Lucas Bólico
Manoel de Barros, o 'maior inútil' cuiabano, completa 95 anos hoje
“Poesia é a virtude do inútil. Porque o inútil só presta pra isso mesmo, pra poesia, não presta pra mais nada não. É como um traste, uma coisa inútil mesmo, que está jogado por ai e tal”. Manoel de Barros é o autor desta frase. Quem sou eu para desmentir ou discordar. O fato é que se a afirmação procede, hoje, ele, que é então o inútil mais notável nascido em Cuiabá e um dos maiores inúteis da nossa língua portuguesa ainda vivo completa seus 95 anos, morando em Campo Grande (MS).

A frase acima foi dita pelo poeta em uma das únicas - senão a única - entrevista que se tem gravada em vídeo com ele, concedida para o documentarista Pedro Cezar. Está é a primeira afirmação que o poeta faz no filme Só dez por cento é mentira – a desbiografia de Manoel de Barros, realização da Biscoito Fino, com direção geral de Kati Almeida Braga.

Recluso, Manoel não gosta de gravar entrevistas. Chega a afirmar que seu ser biológico não é interessante. De conversa ele gosta. Já quando o papo é entrevista, prefere mesmo por escrito. Ele é mais interessante por meio das letras, argumenta. Levando isso em conta, o documentário de Pedro Cezar é uma verdadeira jóia, ao mostrá-lo como nunca antes. E muito provavelmente como nunca mais será.

Nascido às margens do Rio Cuiabá, no Beco da Marinha, em 1916, Manoel Wenceslau Leite de Barros mudou-se ainda muito novo, com um ano de idade, para Corumbá. Aos 8 se mudou para Campo Grande, onde estudou em um colégio interno e descobriu o que era “ter orgasmos com as palavras”.

Manoel de Barros ainda morou na Bolívia e no Perú, “tomando pinga de milho” e viveu em Nova Iorque, onde fez curso sobre cinema e sobre pintura no Museu de Arte Moderna. Seu primeiro livro foi publicado no Rio de Janeiro, há mais de sessenta anos, e se chamou "Poemas concebidos sem pecado".

Hoje o poeta é reconhecido nacional e internacionalmente como um dos mais originais do século e mais importantes do Brasil. Guimarães Rosa, que fez a maior revolução na prosa brasileira, comparou os textos de Manoel a um "doce de coco".

Ainda no documentário de Pedro Cezar, ele diz que “poesia é uma coisa que a gente não descreve, poesia a gente descobre, a gente acha. Eu sou procurado pelas palavras, não tenho inspiração. Eu sou excitado por uma palavra, ela me excita, ela se apaixona por mim, as amigas que ela tem ai pelo mundo se encontram pelo cheiro pra desabrochar num poema e desabrocha em mim”.

Segue um texto de Manoel de Barros:

Uma Didática da Invenção
do "O Livro das Ignorãnças" ed. Civilização Brasileira.


I
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com
faca
b) 0 modo como as violetas preparam o dia
para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas
vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência
num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega
mais ternura que um rio que flui entre 2
lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
Etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

IV
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para
Dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras

IX
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz.

Hoje eu desenho o cheiro das árvores.

IX
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

2 comments:

Michelle Jaber said...

Que presente lindo e eu nem sabia!!!!
ameiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!
obrigada lindeza!!!

mimi sato said...

beijo, minha amada
muito mais do que manoel
*

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