http://ermiracultura.com.br/2018/01/27/cinco-poemas-de-orides-fontela/
[1]
Fala
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.
Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
(Toda palavra é crueldade.)
̻ ̻ ̻
[2]
Odes
I
O verbo?
Embebê-lo de denso vinho.
A vida?
Dissolvê-la no intenso júbilo.
II
Sonho vivido desde sempre
̶ real buscado até o sangue.
III
O Sol cai até o solo
a árvore dói até o cerne
a vida pulsa até o centro
… o arco se verga
até o extremo limite.
IV
Lavro a figura
não em pedra: em silêncio.
Lavro a figura
não na pedra (inda plástica) mas no
inumano vazio
do silêncio.
V
A flor abriu-se.
A flor mostrou-se em sua inteireza:
̶ Tragamos, ouro, incenso, mirra!
̻ ̻ ̻
[3]
As Parcas
As Parcas
fiam
nada
tecendo
tecendo o nada
em lento fio
branco? Nem
branco:
apenas pura
perda, sussurro
de lento canto
que autoesvazia-se
e ̶ inútil ̶ tomba
evanescendo-se
na transparência.
……………………….
Apenas
isto:
Parcas vigilam.
Cintila o
mar.
̻ ̻ ̻
[4]
A loja (de relógios)
I
O relógio
horologium
a hora
o logos.
II
Os peixes estão
no aquário
o touro está
na balança
e a virgem
parindo
os gêmeos.
III
Os relógios estão
na eternidade.
̻ ̻ ̻
[5]
Círculo
O círculo
é astuto:
enrola-se
envolve-se
autofagicamente.
Depois
explode
̶ galáxias! ̶
abre-se
vivo
pulsa
multiplica-se
divindadecírculo
perplexa
(perversa?)
o unicírculo
devorando
tudo.
Cinco poemas de Orides Fontela
(Curadoria de Luís Araujo Pereira)
[1]
Fala
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.
Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
(Toda palavra é crueldade.)
̻ ̻ ̻
[2]
Odes
I
O verbo?
Embebê-lo de denso vinho.
A vida?
Dissolvê-la no intenso júbilo.
II
Sonho vivido desde sempre
̶ real buscado até o sangue.
III
O Sol cai até o solo
a árvore dói até o cerne
a vida pulsa até o centro
… o arco se verga
até o extremo limite.
IV
Lavro a figura
não em pedra: em silêncio.
Lavro a figura
não na pedra (inda plástica) mas no
inumano vazio
do silêncio.
V
A flor abriu-se.
A flor mostrou-se em sua inteireza:
̶ Tragamos, ouro, incenso, mirra!
̻ ̻ ̻
[3]
As Parcas
As Parcas
fiam
nada
tecendo
tecendo o nada
em lento fio
branco? Nem
branco:
apenas pura
perda, sussurro
de lento canto
que autoesvazia-se
e ̶ inútil ̶ tomba
evanescendo-se
na transparência.
……………………….
Apenas
isto:
Parcas vigilam.
Cintila o
mar.
̻ ̻ ̻
[4]
A loja (de relógios)
I
O relógio
horologium
a hora
o logos.
II
Os peixes estão
no aquário
o touro está
na balança
e a virgem
parindo
os gêmeos.
III
Os relógios estão
na eternidade.
̻ ̻ ̻
[5]
Círculo
O círculo
é astuto:
enrola-se
envolve-se
autofagicamente.
Depois
explode
̶ galáxias! ̶
abre-se
vivo
pulsa
multiplica-se
divindadecírculo
perplexa
(perversa?)
o unicírculo
devorando
tudo.
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