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http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/04/10/roland-barthes-um-c%C3%A9tico-moderno/
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Roland Barthes: um cético moderno
Roland Barthes –
Uma biografia intelectual
| Leda Tenório da Motta | Iluminuras / FAPESP
, 288 páginas, R$ 47,00
OLGÁRIA MATOS | Edição 194 - Abril de 2012
Roland Barthes – Uma biografia intelectual, de Leda Tenório da Motta, inscreve Barthes na grande tradição das “morais do grande século”, para logo apresentá-lo na figura mais universal do filósofo. Pois, se nos cortesãos de Luís XIV, La Rochefoucauld detectava em cada vício a máscara da virtude, é por romper com a lógica do incontrovertido em que o ser é e o não ser não é. Neste sentido Leda Tenório da Motta escreve: “A Barthes essas práticas de desmonte do logos que estabiliza coisas instáveis sugerem todo um pautário que, passando pelos drogados baudelairianos postos em beatitude, pela lucidez da hiperconsciência de Monsieur Teste e pelos heróis distanciados de Brecht, vai da crise de Gide à postura zen”. (p. 52)
Desfazendo a oposição binária e o princípio de identidade, a autora mostra de que maneira em Barthes a dúvida não é o “pensamento do negativo” das sínteses hegelianas, porque não se trata de contradição, mas do Neutro. Neutro, observa Leda Tenório da Motta, não é Doxa, o discurso dos lugares-comuns e dos estereótipos da cultura contemporânea, que, ao gosto dos críticos da mídia, define sem definir, dizendo “o gosto é o gosto” ou “Racine é Racine”. Neutro, diversamente, é “ne-uter”, nem um nem outro, e um e outro.
Reavendo a tradição do ceticismo antigo e de Pirro, entre a tensão dos opostos e sua conciliação, a epoché é a “suspensão do juízo”, é o direito de calar-se. O que explica, observa Leda T. da Motta, “em plano prático ou de neutralização ética, seu famoso silêncio em relação ao regime maoista; sua decisão de não julgar o Japão moderno e tecnológico, em seu O império dos signos, para só ficar nos minimalismos da cultura nipônica ancestral; sua escapada para o Marrocos logo depois dos acontecimentos de maio de 1968, cuja cultura partisan o aborrece.” Nem ativa nem passiva, a apathia não é desafeto, mas sobrietas e delicadeza. Com o que Barthes, neste livro, afasta-se das injunções dogmáticas e de suas prescrições. O desejo do Neutro é: “Suspensão das ordens, leis, cominações, arrogâncias, terrorismos, ameaças, exigências, querer- cingir”. Nem ativa nem passiva, a indiferença barthesiana, mostra Leda T. da Motta, é distância com respeito ao narcisismo da imagem que se quer oferecer ao Outro, a que Barthes prefere o retiro que subtrai ao olhar, suspendendo as exigências da socialização. A indiferença é aqui tédio com respeito ao status quo do conformismo, é defesa contra o “acertar o passo” generalizado.
Da poética à literatura, de Rimbaud a Camus, da semiologia ao estruturalismo, do marxismo à indústria cultural, do mito à astrologia, o Neutro barthesiano é a indiferença que reúne a deriva suave à delicadeza, o discreto à nuance. E, como opunctum fotográfico, o Neutro é o pungente que se opõe ao studium, ao “estudado” para “comover”. Acompanhando os sentidos do Neutro, Leda nos mostra que, nesse “cético moderno”, à independência do juízo é também “direito ao cansaço” “no meio do caminho desta vida”, momento disruptivo, punctum final da preparação do romance do último curso de Barthes no Collège de France, de um romance que não será escrito: “Nessas condições”, conclui Leda Tenório da Motta, “como poderia o poeta definir a literatura senão como o grau zero da escritura […], a forma do escritor sem literatura?” (p. 270)
Com extremo rigor e máxima liberdade, Leda Tenório da Motta faz ver no Neutro barthesiano a metafísica da impermanência, a lei do efêmero, a vanidade das coisas e a grandeza do instante. Instante da “vita nova”, ou “a morte do autor”, a vita nova é a morte do autor.
Olgária Matos é professora titular do Departamento de Filosofia
da Universidade de São Paulo e professora visitante do curso de Filosofia da Universidade Federal de São Paulo.
4 comments:
Querida Mimi, conhecer teu blog me aproximou mais de tua forma tão linda de ser.
A dica sobre o livro do filósofo é muito interessante, principalmente essa parte em que vai de encontro ao meu coração: "é defesa contra o “acertar o passo” generalizado." E eu acrescento: Para quê acertar o passo? Quando o melhor é o descompasso da liberdade de ser...
Beijinhos, com carinho
obrigada pelo comentário, madá. na verdade, gostaria de tornar meu blog mais incrementado, não o faço por falta de tempo (e preguicinha... awm).
em passos, descompassos e recompassos, aqui vai meu grande abraço.
Mimi, está tão atrativo seu BLOG!!!! não canço de navegar nesta cultura imensa...e leve! Saudades
ai que delícia de comentário, gratíssima minha querida...
vindo de vc, crítica do jeito q és, é um elogio e tanto!
fiquei feliz
you made my day
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