eu pintaria o mundo
como o perfume da flor
agosto09
[retornando de Cabo Verde]
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Conforme promessa, a foto publicada no meu blog aos meus sujeitos de pesquisa em Cabo Verde. E os agradecimentos pela entrevista para: Anita Fernandes, Linete Patrícia Almeida Correa, Edna Alves e também Ivandro Lopes, Cândido Ribeiro, João Santos e um jovem que infelizmente escapou seu nome.
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No começo da conversa, entre caderno e caneta para minhas anotações, as narrativas eram deixadas bem claras por estes jovens: os mitos são invenções populares que merecem descrédito. Apenas um dos rapazes, João de Palmarejo, assumia acreditar nas histórias narradas. Entretanto, após alguns causos mal assombrados, todos contavam alguma história dando a conotação de que acreditavam no que narravam. “Meus pais contavam estas histórias e eu, pessoalmente já vi as bruxarias” [JOÃO].
Feitiçaria, bruxaria, macumbas e até mesmo vodus são atividades “do mal” bastante frequentes nas ilhas, especialmente aqueles que servem para seduzir os sexos opostos para enamorar. Gostam de quiromancia, horóscopo e alguns afirmavam consultar a internet para saber mais sobre o futuro. Perguntei-lhes se sabiam do nome do site, mas revelavam ainda um estranhamento tecnológico, e vibraram quando lhes contei que colocaria a fotografia deles na internet!
Uma noiva abandonada ao altar assombra as pessoas, de tempos em tempos, ainda tipicamente vestida como no dia em que foi desamparada pelo noivo. Nos mares, entre mares e além mares, parece que o amor é ainda o fenômeno presente que arrebata corações nos mitos e ritos de todo o mundo.
Para se curar deste males, há curandeiros que “guardam o corpo” por meio de ervas, “fechando-o” até contra punhaladas ou lâminas mais cortantes. Alguns conseguem fazer cirurgias espirituais, outros usam poderes extra-sensoriais para ler os sinais, como indicações para se encontrar pessoas desaparecidas, por ex. Outras narrativas se fizeram presentes, a maioria envolvendo feitiçarias e histórias fantásticas muito próximas à religiosidade cristã, como milagres e oferendas espirituais. Afirmaram ser todos cristãos, mas nem todos católicos, com a presença da Igreja de evangélicos, protestantes e batistas.
Foram unânimes em dar a forte recomendação de entrevistar os rabelados, que teriam mais histórias a contar. Perguntei-lhes se aprovavam o modo de vida dos rabelados e a resposta foi afirmativa. Era opções identidárias que se construíram e, para aqueles jovens ali comigo naquele instante, eram corajosos que teimavam em SER, para além de ter. Guardadas as proporções, Sartre talvez diria que no plano existencial daquela gente, a condição era resistir. E talvez eu possa mudar Fernando Pessoa, afirmando: “Resistir é preciso. Viver não é preciso”.
[mimi, em 29jul09, na biblioteca nacional de CV]
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https://www.christies.com/features/pre-raphaelite-works-owned-by-isabel-goldsmith-12365-3.aspx?sc_lang=en&cid=EM_EMLcontent04144C16Secti...