PANDEMIA
O efeito caótico das fake news como armas poderosas
Déborah Santos e Michèle Sato, do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA) da UFMT, afirmam que as notícias falsas obstruem o papel da imprensa.
Marcello Casal Jr / Agência Brasil
No Brasil, a pandemia do novo coronavírus em pouco mais de 120 dias trouxe à tona uma série de fenômenos sociais que revela a utilização das fake news (notícias falsas) na tática que os cientistas definem como “Revolução Colorida”. De acordo com as pesquisadoras do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Déborah Santos e Michèle Sato, as fake news são uma arma poderosa nessa revolução.
“As redes sociais aceleram a articulação para que a Revolução Colorida ocorra com mais vigor. Elas possibilitam que pessoas se reúnam de modo muito ágil fomentando a formação de enxames. As chamadas fake-news são verdadeiras armas coloridas, que obstruem o papel da imprensa séria, confundindo datas de eventos, fotografias, narrativas e invenções que objetivam desmoralizar as pessoas, denegrir as ciências ou caluniar a seriedade do jornalismo investigativo”, descrevem as pesquisadoras no artigo “Guerras Híbridas: para além do verde e amarelo”.
O grupo de pesquisa da UFMT fez uma contextualização do atual cenário brasileiro a partir do livro “Guerras híbridas – das revoluções coloridas aos golpes”, do jornalista Andrew Korybko, que entre outras coisas analisa os conflitos entre Estados Unidos, Rússia e China. “Em meio ao caótico em que as guerras hibridas se estruturam, certos governos se mantêm no poder com auxílio da disseminação de fake-news, como é o caso do presidente Jair Bolsonaro, que comanda o país destruindo a natureza e a sociedade brasileira. Cultura e ambiente são dimensões intrínsecas do planeta, que na pandemia, mostraram a tragédia e o abismo social: ao desmatar as florestas, o vírus foi liberto, e se o contágio da covid-19 foi grande entre os ricos, a morte está presente nas periferias”, aponta o estudo.
“As chamadas fake-news são verdadeiras armas coloridas, que obstruem o papel da imprensa séria, confundindo datas de eventos, fotografias, narrativas e invenções que objetivam desmoralizar as pessoas, denegrir as ciências ou caluniar a seriedade do jornalismo investigativo”
“Guerras Híbridas: a Revolução Colorida e a Guerra Não Convencional - ambas visam a instauração do golpe e a troca de regime político”, segundo definição de Andrew Korybko, em 2015. Ou seja, historicamente as “revoluções coloridas têm auxiliado a instaurar o golpe brando e caso este não seja suficiente para concretizar a troca de governo, a guerra não convencional auxilia a concretizar o golpe rígido”, afirmam as pesquisadoras do GPEA.
Déborah Santos e Michèle Sato avaliam que as guerras indiretas têm sido amplamente usadas pelos Estados Unidos para desestabilizar e minar os países que não estão alinhados com a política imperialista, usando estratégias capazes de derrotar o inimigo sem utilizar armas convencionais e sem enfrentá-lo diretamente. “São as armas coloridas que vieram para confundir, criar conflitos, gerar inseguranças e raiva, fazendo com que as pessoas percam confiança nas ciências, nas notícias sérias ou até da Organização Mundial de Saúde (OMS)”, alertam as pesquisadoras.
"Diversas zoonoses ocorreram destes ambientes invadidos, e assim a covid-19 não se limita a ser uma pandemia sanitária, mas ela é oriunda de uma crise global de queima e de colapso climático".
Pandemia
A pandemia do novo coronavírus associada à disseminação das fake news tem um resultado dramático na sociedade. “É surpreendente o número de notícias falsas que vem trazendo conflitos, causando discórdias, dúvidas e inseguranças neste mundo ameaçado pela crise climática, originária da forte industrialização, da pesada mecanização da agricultura e dos modelos consumistas de vida que seduziram a sociedade por meio da palavra ‘desenvolvimento’. Por intermédio ‘desta ordem e deste progresso’ foi estabelecida uma hierarquia que o humano poderia dominar a terra, devastando florestas, poluindo ares, destruindo rios e matando vidas”, ressaltou Michèle Sato ao lembrar da análise feita por ela em entrevista ao PNB Online sobre o assunto em maio deste ano.
Leia mais: "Mundo será igual se o ser humano não aprender", alerta pesquisadora para o pós-pandemia
Veja o artigo na íntegra:
GUERRAS HÍBRIDAS: PARA ALÉM DE VERDE E AMARELO
Déborah Santos e Michèle Sato
GPEA-UFMT
É surpreendente o número de notícias falsas (fake-news) que vem trazendo conflitos, causando discórdias, dúvidas e inseguranças neste mundo ameaçado pela crise climática, originária da forte industrialização, da pesada mecanização da agricultura e dos modelos consumistas de vida que seduziram a sociedade por meio da palavra “desenvolvimento”. Por intermédio “desta ordem e deste progresso” foi estabelecida uma hierarquia que o humano poderia dominar a terra, devastando florestas, poluindo ares, destruindo rios e matando vidas.
A invasão nestes territórios, fez com que o humano tivesse contato com seres que estavam ajustados com a natureza, numa dinâmica da ecologia. Façamos um mea culpa em assumir que as ciências auxiliaram este desenvolvimento, trazendo a falsa ilusão de que o vencedor será aquele com mais moedas. Diversas zoonoses ocorreram destes ambientes invadidos e as próximas pandemias podem surgir do degelo dos polos, ou da floresta Amazônica. Assim, a Covid-19 não se limita a ser uma pandemia “sanitária”, mas ela é oriunda de uma crise global de queima e de colapso climático.
Contudo, muitos negam que o ser humano interfere no clima. Assim como negam o desempenho das vacinas e, muito terrivelmente, depreciam as ciências e negam que uma pandemia se alastra no globo, eliminando milhões de vidas. Este “negacionismo” não se limita à Terra plana, mas tem raízes no que Korybko (2015) intitula de “GUERRAS HÍBRIDAS E ARMAS COLORIDAS”.
As guerras híbridas, ou indiretas, têm sido amplamente usadas pelos Estados Unidos da América (EUA) para desestabilizar e minar os países que não estão alinhados com a política imperialista, usando estratégias capazes de derrotar o inimigo sem utilizar as armas convencionais e sem enfrentá-lo diretamente. Esse tipo de evento é difícil de identificar por se apresentar irregular, indireto e não linear (KORYBKO, 2015). São as armas coloridas que vieram para confundir, criar conflitos, gerar inseguranças e ira, fazendo com que as pessoas percam confiança nas ciências, nas notícias sérias ou até da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Duas estratégias são utilizadas nessas Guerras Hibridas: a Revolução Colorida e a Guerra Não Convencional - ambas visam a instauração do golpe e a troca de regime político. De acordo com Korybko (2015), historicamente as Revoluções Coloridas têm auxiliado a instaurar o golpe brando e caso este não seja suficiente para concretizar a troca de governo, a Guerra Não Convencional auxilia a concretizar o golpe rígido.
Dentre essas dimensões, as redes sociais aceleram a articulação para que a Revolução Colorida ocorra com mais vigor, elas possibilitam que pessoas se reúnam de modo muito ágil fomentando a formação de enxames. As chamados fake-news são verdadeiras armas coloridas, que obstrui o papel da imprensa séria, confundindo datas de eventos, fotografias, narrativas e invenções que objetivam desmoralizar as pessoas, denegrir as ciências ou caluniar a seriedade do jornalismo investigativo.
Em meio ao caótico em que as guerras hibridas se estruturam, certos governos se mantêm no poder, com auxílio da disseminação de fake-news, como é o caso do Bolsonaro, que comanda o país destruindo a natureza e a sociedade brasileira. Cultura e ambiente são dimensões intrínsecas do planeta, que na pandemia, mostraram a tragédia ecológica e o abismo social: ao desmatar as florestas, o vírus foi liberto, e se o contágio da Covid-19 foi grande entre os ricos, a morte está muito mais presente nas periferias.
Referência
KORYBKO, Andrew. Guerras Híbridas: a abordagem adaptativa indireta com vistas à troca de regime. 2015.
Déborah Santos e Michèle Sato são pesquisadoras do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA) da UFMT.
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